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Campanha alerta sobre os perigos do diagnóstico tardio do mieloma múltiplo

Mês de Conscientização do Mieloma Múltipla destaca a importância da identificação e do tratamento precoces para vencer esse tipo de câncer.

Março é o Mês de Conscientização do Mieloma Múltiplo, um tipo de câncer que acomete os plasmócitos, células da medula óssea que são responsáveis pela produção de anticorpos que combatem os vírus e bactérias que invadem nosso corpo. A cada ano, sete em cada grupo de cem mil habitantes são diagnosticados com a doença no nosso país.

Promovida pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), a campanha enfatiza a importância do diagnóstico e tratamento precoces e também ajuda a chamar a atenção para uma realidade nacional que precisa ser superada: uma grande parcela dos pacientes demora para descobrir que tem a doença, o que propicia o desenvolvimento de fraturas ósseas perigosas, doenças renais e outros problemas que irão impactar a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes.

O diagnóstico tardio está associado a diversos motivos. Um dos mais importantes diz respeito à falta de acesso a serviços de saúde capacitados e estruturados para identificar a enfermidade de maneira rápida e eficiente. Como quase 90% dos casos têm como primeiros sintomas as dores ósseas na coluna e em geral, é grande o número de pacientes que precisam esperar demasiadamente para conseguirem fazer exames de ressonância ou tomografia, técnicas que permitem detectar lesões ósseas típicas provocadas pelo mieloma. O raio-X, mais acessível, é uma técnica inferior comparada às outras duas, útil apenas para observar lesões que já estão em estágios bem avançados.

Mediante sinais como dores na coluna e outras dores ósseas sem razão aparente, é importante que clínicos gerais e ortopedistas aventem a possibilidade de estarem lidando com o mieloma múltiplo. Além dos problemas ósseos, que incluem ainda fraturas decorrentes da destruição do tecido ósseo, a doença pode se manifestar por meio da fadiga e palidez associadas à anemia, infecções constantes decorrentes da baixa no sistema imunológico e redução do volume da urina, quando a doença já levou à insuficiência renal.

A doença em detalhes
Na fase inicial, o mieloma múltiplo se desenvolve geralmente de maneira discreta, praticamente sem sintomas. Porém, à medida que a doença evolui, a multiplicação de plasmócitos doentes começa a provocar alternações em diversas partes do sistema esquelético, em virtude da ação de uma imunoglobulina clonal chamada componente M, fabricada pelos plasmócitos defeituosos. Com o tempo, os ossos vão ficando esburacados em diversos pontos do esqueleto do paciente, propiciando fraturas provocadas por esforços mínimos. Essa imunoglobulina clonal também acaba lesionando os rins, podendo levar à insuficiência renal crônica.

Para o diagnóstico, o hemograma serve para verificar os índices de anemia. Mas a presença e a quantidade da imunoglobulina produzida pelos plasmócitos são aferidas por outro exame de sangue: a eletroforese de proteínas, técnica que identifica os vários tipos de proteínas presentes em uma amostra de sangue.

A confirmação diagnóstica vem com a realização de outros exames, como o mielograma, método baseado numa punção aspirativa para retirar amostra sanguínea de dentro da medula óssea para quantificar a taxa de plasmócitos doentes. Acima de 10% é constatada a doença. O ideal é fazer também uma biópsia de medula óssea para análise anatomopatológica e imunohistoquímica de uma amostra de tecido extraído dessa área. Isso ajuda afastar a hipótese de outras doenças que podem ser confundidas com o mieloma múltiplo.

Também é importante verificar se existem alterações numéricas e estruturais nos cromossomos dos plasmócitos doentes, por meio do exame de cariótipo ou exame Fish (Hibridização Fluorescente in Situ, que usa corantes fluorescentes que só se ligam a determinados pontos dos cromossomos investigados). As análises podem ser feitas com o mesmo material colhido na punção para o mielograma. Essas informações são vitais para os médicos identificarem o grau de risco da doença (estratificação de risco) e calibrarem a intensidade do tratamento.

Tratamento
Não existem estratégias de prevenção do mieloma múltiplo. Contudo, sabe-se que pessoas expostas a benzeno, agrotóxicos e radiações são mais propensas a desenvolver a doença. Contudo, a boa notícia é que o mieloma múltiplo está se tornando uma doença cada vez mais controlável.

Tradicionalmente, o tratamento é feito com medicamentos, particularmente os quimioterápicos. Para alguns casos, é indicada também a radioterapia. O transplante de medula óssea fica reservado para pacientes com até 75 anos, em bom estado clínico e que tenham apresentado boa resposta ao tratamento. Cerca de 30% a 40% dos pacientes são transplantados. Nesses casos, é feito o chamado transplante autólogo, técnica por meio da qual os pacientes recebem infusões das suas próprias células-tronco, extraídas e preservadas antes da aplicação de quimioterapia e/ou radioterapia destinada a eliminar todas as células doentes da medula óssea.

Novidades recentes começam a mudar o curso da história dessa doença, combinando avanços no diagnóstico precoce, entendendo melhor a biologia da doença, permitindo estratificar o mieloma múltiplo mais agressivo e elaborar uma estratégia de tratamento mais adequada.

No âmbito do tratamento, as inovações incluem os inibidores de proteassoma, que agem sobre essa substância bastante ativa nas células do mieloma; os imunomoduladores, que atuam no sistema imunológico estimulando a destruição dos plasmócitos doentes; e os anticorpos monoclonais, proteínas produzidas em laboratório com o objetivo de agir em um alvo molecular específico das células tumorais.

Merecem destaque ainda as células CAR-T, estratégia terapêutica baseada no uso de linfócitos T extraídos do próprio paciente para serem geneticamente modificados em laboratório e ‘treinados’ para reconhecer os plasmócitos doentes como corpos estranhos ao organismo. Uma vez infundidos no corpo do paciente, esses linfócitos vão atuar combatendo o mieloma. Trata-se de um importante passo, que pode futuramente significar até a cura da doença. A BP – que já conta com especialistas e tecnologias que asseguram desde diagnóstico rápido e preciso até o tratamento mais moderno e efetivo da doença – é uma das instituições brasileiras envolvidas em estudos clínicos dessa nova e promissora terapia.

Fontes: Breno Gusmão - CRM/SP 166.471 e Alex Sandes (Fleury) - CRM/SP 102.803

Data da última atualização: 28/02/2022