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Câncer de próstata: possíveis efeitos colaterais da cirurgia ou radioterapia são cada vez mais raros e têm tratamento

Medicina tem recursos que permitem reverter ou contornar consequências do tratamento, como incontinência urinária e disfunção sexual

Os avanços no tratamento do câncer de próstata, como a cirurgia robótica e as modernas tecnologias de radioterapia, têm contribuído não apenas para a melhoria dos resultados oncológicos (cura), mas também para reduzir eventuais efeitos colaterais, como a incontinência urinária e a disfunção sexual.

A prostatectomia – retirada da próstata e vesículas seminais – tornou-se mais precisa e segura com as novas plataformas robóticas. Nesse processo, porém, os nervos responsáveis pela ereção e contenção da urina podem ser acometidos. Dependendo das características do tumor, esse feixe nervoso tem de ser sacrificado uni ou bilateralmente, o que provoca piores resultados funcionais. Em cenários de doenças mais favoráveis, os nervos podem ficar “dormentes” por um período, podendo afetar essas funções temporariamente. A dimensão do dano e o tempo de recuperação dependem de uma série de fatores como idade e condições de saúde do paciente, local e tipo do tumor e experiência do cirurgião. De forma geral, são altas as chances de recuperação. Homens jovens e/ou com um bom quadro de saúde muitas vezes sequer apresentam essas condições, evoluindo com um resultado funcional excelente, praticamente idêntico ao do pré-operatório.

A radioterapia também evoluiu de maneira considerável com novas tecnologias que permitem administrar de maneira segura altas doses de radiação, com maior precisão, poupando órgãos e tecidos saudáveis adjacentes e reduzindo o número de sessões. Mas o tratamento radioterápico também pode gerar sequelas que, assim como na cirurgia, variam de acordo com o perfil do paciente, tipo e local do tumor.

Revertendo os efeitos colaterais
Recuperar as funções afetadas costuma ser questão de tempo e tratamento adequado. São raros os casos sem reversão dos efeitos.

A incontinência urinária é um pouco mais frequente após a prostatectomia. Um recurso muito utilizado e com alto índice de sucesso é a fisioterapia perineal, que pode ser iniciada antes e, mais comumente, após a cirurgia, para agilizar a retomada do controle da urina. Essa reabilitação do assoalho pélvico tem por objetivo fortalecer e retomar a função da musculatura local, melhorando a pressão de fechamento da uretra, que controla a urina. O programa pode contar com o suporte do biofeedback, equipamento que capta, por meio de um eletrodo instalado na região do períneo, dados da pressão e intensidade de contração e relaxamento da musculatura da região. São informações que ajudam fisioterapeuta e paciente no ajuste dos exercícios para controle da função.

Na persistência do problema, é possível implantar, por meio de um procedimento minimamente invasivo, um dispositivo chamado sling uretral, uma faixa sintética que funciona como um suspensório que aumenta a resistência uretral, evitando ou reduzindo a perda de urina. Para casos mais graves, uma solução é o esfíncter artificial. Também implantado por procedimento minimamente invasivo, é um dispositivo de silicone que faz a função do esfíncter uretral (musculatura que abre e fecha no controle da passagem da urina). Ele é controlado pelo homem por meio de um pump, um botão localizado embaixo da pele do escroto.

Efeito colateral pouco comum na radioterapia (incidência inferior a 10%), a retite actínica (inflamação do reto que pode causar dores, diarreia, sangramento e escoamentos anormais) costuma ser um problema limitado ao período de tratamento, cessando logo após o término. Nos poucos casos de persistência, o tratamento é feito com a administração de medicamentos à base de corticoides e, nos quadros mais graves, tratamentos locais por meio de técnicas endoscópicas.

Vida sexual
A reabilitação da função erétil ocorre gradualmente e pode levar entre seis meses e um ano. A fim de ajudar nesse processo, podem ser receitados medicamentos como tadalafina, sildenafila, vardenafila e similares, que facilitam a ereção, agindo como uma “fisioterapia” do pênis. Outra opção é a bomba peniana a vácuo, que provoca a ereção estimulando os vasos sanguíneos. Com o pênis ereto é colocada uma banda elástica (anel) na base do pênis para manter a ereção. Se necessário, outros tratamentos podem ser indicados, como a injeção intracavernosa, um medicamento que provoca a ereção, injetado diretamente no pênis na hora da relação sexual.

Todas essas técnicas devem ser repetidas regularmente para ajudar na recuperação da função erétil. Nos casos graves, quando nenhuma das técnicas anteriores deu resultado, existe a opção do implante da prótese peniana. Ela substitui o tecido erétil do pênis por estruturas cilíndricas de silicone, que podem ser infláveis ou semirrígidas/maleáveis.

Atualmente, por temer os efeitos colaterais, parte dos pacientes acaba por não aderir ao tratamento, mesmo sendo o câncer de próstata o segundo tipo de tumor que mais mata os homens no Brasil, atrás apenas do câncer de pulmão. É um temor que não faz sentido. Seja pelos avanços nos procedimentos cirúrgicos e radioterápicos que reduziram a ocorrência dessas sequelas, seja pelos vários recursos disponíveis para tratá-las quando acontecem, a decisão de quem tem um diagnóstico de câncer de próstata só pode ser uma: tratar o tumor e investir na vida.

Fonte: Marcelo Langer Wroclawski – CRM 112.990 SP; Erlon Gil – CRM 115.917 SP

Data da última atualização: 4/5/2021