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Como parar de fumar?

O primeiro passo é tomar a decisão de largar o cigarro. O segundo é procurar ajuda médica e psicológica especializada para aumentar as chances de sucesso nessa empreitada.

A maioria das pessoas conhece os males do cigarro. Responsável pela maior causa de mortes evitáveis do mundo, o tabagismo está associado a um sem-número de doenças, como diversos tipos de neoplasias, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose pulmonar... A lista de problemas de saúde que podem ser provocados pelo consumo de tabaco (cigarro, cachimbo, charuto e até tabaco mascado) é enorme. Isso sem contar os reflexos negativos na qualidade de vida, limitando, por exemplo, a capacidade de realizar atividades físicas, o desempenho sexual e até a sensibilidade para sabores e aromas. O tema está nas mais diversas mídias, é foco de campanhas como as realizadas no Dia Mundial sem Tabaco, em 31 de maio, e de várias outras iniciativas.

Tudo isso tem contribuído para um declínio consistente na prevalência de tabagismo no País. Mas, ainda assim, temos uma parte da população (entre 12% e 14%) que segue fumando, engrossando estatísticas como a do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que aponta a morte de 428 pessoas a cada dia devido a doenças relacionadas ao uso do tabaco. Dentre os fumantes, há uma grande parcela que gostaria de parar de fumar, muitos dos quais já tentaram. Então como enfrentar esse desafio?

Uma doença a ser tratada
Mais do que um hábito, tabagismo é uma doença causada pela dependência da nicotina presente nos produtos à base de tabaco. E, como doença, deve ser tratada com acompanhamento médico e psicológico em um programa de cessação do tabagismo.

Para ter sucesso é fundamental que o indivíduo queira, de fato, parar de fumar, pois é um processo contínuo, que requer adesão. Atualmente, as intervenções são baseadas em três frentes: terapia cognitiva comportamental conduzida por psicólogos ou psiquiatras, administração de antidepressivos para controlar a ansiedade e reposição de nicotina.

O tratamento deve ser personalizado, estruturado de acordo com as condições de saúde da pessoa, avaliação de doenças prévias, alergias, tipo e grau de dependência. Também é importante que os especialistas saibam se ocorreram tentativas anteriores de parar de fumar, quais abordagens se mostraram vitoriosas na época e poderiam ser retomadas e quais os motivos de suas falhas, que devem ser contornados.

Doença complexa, o tabagismo pode ter como principal fator a dependência química da nicotina, geralmente medida em uma escala de 0 a 10 por meio do Teste de Fagerström, baseado em um questionário de múltipla escolha sobre o hábito de fumar. Em alguns casos, a dependência de nicotina pode até ser baixa, mas a dependência psicológica é forte, ligada à ansiedade, que também necessita ser tratada, muitas vezes antes do início do tratamento medicamentoso

Devem ficar claros, ainda, os gatilhos mentais que levam a acender o cigarro, para serem rompidos ou substituídos, por exemplo, por uma atividade saudável e prazerosa, o que depende do perfil de cada indivíduo. A vontade de fumar que surge como escape de uma situação psicológica pode ser respondida com a ingestão, por exemplo, de um copo d’água, o consumo de uma bala, uma caminhada ou corrida.

Atualmente, o tratamento farmacológico pode ser baseado em três medicamentos, que podem ou não ser combinados, dependendo de cada caso: terapia de reposição de nicotina; bupropiona, um antidepressivo; e vareniclina, medicamento que age no receptor da nicotina, reduzindo o desejo de fumar e os sintomas da abstinência.

Os especialistas também dão especial atenção às mudanças nos hábitos alimentares dos pacientes em tratamento. De um lado, há pessoas que substituem pela comida a compulsão pelo tabaco; de outro, alguns medicamentos ministrados, como os ansiolíticos e antidepressivos, podem de fato abrir o apetite. Frente a isso, médicos e psicólogos traçam conjuntamente estratégias para evitar impactos indesejados como o ganho de peso.

Uma pessoa é considerada ex-tabagista quando passa 12 meses longe do antigo hábito. É um trabalho contínuo, desenvolvido em conjunto pelo paciente e pelos especialistas que o acompanham, com possíveis readaptações de rota e sem tempo estimado de duração. Mas vencer essa batalha é distanciar-se dos riscos da infinidade de doenças associadas ao tabaco e ganhar troféus a cada dia em termos de saúde e qualidade de vida. Em resumo, é ganhar mais vida.

Fonte: Felipe Marques da Costa, CRM 154.120; Suellen Nastri Costa, CRM 151.417

Data da última atualização: 16/4/2021