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Qual a diferença entre leucemias aguda e crônica?

As agudas são as mais graves, exigindo sempre algum tipo de tratamento; o transplante de medula óssea possibilita a cura em muitos casos, quando indicado

Apesar do nome em comum, as leucemias aguda e crônica são muito diferentes – desde o mecanismo de funcionamento da doença até o seu prognóstico. As primeiras são mais agressivas e o transplante de medula óssea acaba sendo muitas vezes o tratamento mais efetivo após o tratamento inicial com quimioterapia.

As leucemias agudas são caracterizadas por uma falha de maturação das células sanguíneas (glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas) geradas na medula óssea. Normalmente, elas se originam e amadurecem dentro da medula, um tecido gelatinoso localizado dentro dos ossos. Só quando se tornam adultas são liberadas na corrente sanguínea para exercer suas funções.

Com a leucemia aguda, ocorre uma quebra nesse ciclo de amadurecimento. A medula não consegue gerar células adultas e passa a produzir desordenadamente mais unidades celulares imaturas (blastos) para compensar essa falta, que não é efetiva. Isso agrava ainda mais o quadro, podendo levar a medula óssea ao colapso e a sua insuficiência.

Quando a medula atinge esse estágio, a queda de células sanguíneas disponíveis no sangue pode resultar em anemia e fraqueza devido à falta de hemácias (glóbulos vermelhos), recorrência de infecções por falta de glóbulos brancos e ocorrência de sangramentos e hemorragias relacionadas à diminuição do número de plaquetas. Esse processo pode ocorrer em semanas ou até em dias e, sem o tratamento rápido, há risco de morte. A esmagadora maioria dos casos de leucemias agudas não tem relação com as leucemias crônicas.

Em função dos tipos de células afetadas, as leucemias agudas se subdividem em dois tipos: as linfoides (déficit original no amadurecimento dos linfócitos que fazem parte dos glóbulos brancos) e as mieloides (vinculadas a outros tipos de células sanguíneas não linfoides). A leucemia aguda linfoide (LLA) é mais comum em crianças e a mais curável dentre todos os tipos, com quimioterapia somente, sem a necessidade de transplante de medula em muitos casos. A leucemia aguda mieloide (LMA) é mais comum em adultos, sendo menos curável, principalmente em pessoas mais idosas.

Já nas leucemias crônicas, as células amadurecem ao ponto de serem liberadas na corrente sanguínea. A questão é que isto acontece de modo exagerado. A maioria dos pacientes não apresenta sintomas. Muitas vezes, leucemias crônicas são descobertas acidentalmente por meio de hemogramas (exame de sangue) realizados por motivos completamente alheios à doença. Quando é detectado um número fora do normal de células sanguíneas, o paciente é encaminhado para um médico hematologista para verificar se é leucemia. Uma pessoa pode ser portadora da enfermidade durante anos sem percebê-la.

Assim como as leucemias agudas, as crônicas podem ser do tipo mieloide (LMC) ou linfoide (LLC). A mieloide exige sempre tratamento, feito com medicamentos da classe dos inibidores da tirosina quinase, que não são quimioterápicos. A linfoide nem sempre, mas ele pode ser necessário frente ao surgimento de sintomas relevantes, como febre, perda de apetite perda de peso e gânglios e baço aumentados. Sem essas manifestações clínicas, os pacientes podem simplesmente contar com acompanhamento médico ao longo da vida.

Leucemias agudas e os transplantes
Mais severas, as leucemias agudas dependem mais do transplante de medula óssea como alternativa curativa ou de controle da doença, principalmente no adulto. Esse procedimento é baseado da transposição de células-tronco de um doador para o paciente, depois que as células doentes da sua medula foram eliminadas em sessões de elevadas doses de quimioterapia, que podem ser combinadas ou não com radioterapia.

Nas crianças, boa parte das leucemias mieloides agudas necessita de transplante, uma vez que a doença não costuma responder tão bem aos quimioterápicos, que é o principal recurso de base para enfrentar as leucemias. Já a maioria das leucemias linfoides agudas em crianças é curada com quimioterapia, principalmente com o desenvolvimento das novas mediações que estão conseguindo quebrar os mecanismos de resistência das células linfoides anormais. Porém, na minoria dos casos, o transplante de medula óssea é necessário na leucemia linfoide infantil.

Nos adultos, é mais incomum o tratamento da leucemia linfoide aguda apenas com quimioterapia, sendo o transplante indicado para um grande número de pacientes. Para a maioria dos portadores de leucemia mieloide aguda também é indicado o transplante, respeitando os critérios de elegibilidade (pacientes não muito idosos, não dialíticos, com condições cardiológicas favoráveis, não diabéticos e com capacidade renal preservada, condições pulmonares preservadas, etc.). Apenas entre 10% e 15% desses pacientes são tratados apenas com quimioterapia por apresentarem um prognóstico mais favorável só com quimioterapia.

Principalmente nas leucemias agudas mais agressivas e resistentes ao tratamento por conta de suas características genéticas, não é incomum observar a volta da doença após um ou dois anos do transplante. A depender da condição clínica do paciente e da disponibilidade de doadores, os médicos podem até sugerir novo transplante, apesar desses casos não serem muito frequentes. Porém, diante de todos os tipos de leucemias agudas, a intenção dos transplantes é sempre curativa. Até 30-40% dos pacientes conquistam essa meta. Com os avanços em anos recentes, esperamos que esse número venha a melhorar.

Fonte: Phillip Scheinberg - CRM/SP 87.226

Data da última atualização: 05/11/2021