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Câncer de ovário: quais são os sintomas?

Nas fases iniciais, esse tipo de tumor não costuma apresentar sintomas ou, quando aparecem, são pouco expressivos. Por isso, mulheres com maior risco para a doença precisam de cuidados redobrados.

O câncer de ovário é daqueles que entram no rol das doenças silenciosas. Seus principais sintomas – dor na região pélvica e do abdome, presença de líquido e aumento do volume abdominal – geralmente só se manifestam quando o tumor já está em fase mais avançada. Na etapa inicial, quando existem, os sintomas são vagos e inespecíficos, como desconforto na área da pelve, dor de estômago e náuseas leves, parecendo mais indícios de distúrbios gastrointestinais, que muitas vezes nem chegam a ser investigados. Como um fator adicional a dificultar o diagnóstico precoce está o fato de não haver um exame de rastreamento efetivo para a detecção inicial da doença.

As estimativas apontam que pouco mais de 20% dos casos de câncer de ovário são diagnosticados em fases iniciais, quando são grandes as chances de cura. Ainda assim, para mulheres de forma geral, não há evidências científicas que apontem benefícios de fazer o rastreamento desse tipo de câncer. No entanto, um recente estudo canadense mostrou que a realização semestral de ultrassonografia transvaginal e exame de sangue do marcador CA 125 (que apresenta níveis mais elevados em pacientes com tumor de ovário, embora essa alteração também possa estar associada a doenças benignas, como endometriose) pode trazer vantagens para o diagnóstico precoce em pacientes de alto risco – mulheres com histórico familiar de cânceres de ovário, mama, pâncreas e gastrointestinais.

Ainda que não seja responsável pela maior parte dos casos, a hereditariedade torna a mulher mais suscetível ao surgimento do câncer: quanto mais próximo for o grau de parentesco (mãe, filha, irmã) ou mais numerosos forem os casos em familiares de 2º e 3º grau, maior o risco. Além de exames semestrais de acompanhamento, essas mulheres podem realizar testes genéticos para verificar se possuem as mutações genéticas BRCA 1 ou BRCA 2, que indicam um alto risco para cânceres de ovário e mama. Resultados positivos confirmam a necessidade de um rastreamento rigoroso, sendo que algumas pacientes optam pela retirada do órgão preventivamente, como ocorreu com a atriz estadunidense Angelina Jolie, que extraiu as mamas e o ovário. Contudo, é importante lembrar que são casos raros e extremos.

Também são mais suscetíveis ao câncer de ovário, mas com menor grau de risco, estão as mulheres obesas, as que tiveram dificuldade para engravidar, as portadoras de endometriose e as fumantes. Por outro lado, ter usado anticoncepcional oral de estrógeno e progesterona por mais de cinco anos é uma condição protetora, que reduz a probabilidade de desenvolver a doença. Isso vale, inclusive, para mulheres com histórico familiar e mutação genética, podendo, portanto, ser adotada como estratégia preventiva.

Na suspeita de câncer de ovário, além da ultrassonografia transvaginal e exame de marcador, costuma ser feita uma ressonância magnética. Não é realizada biópsia, já que esse procedimento pode disseminar as células malignas no abdome.

O procedimento para retirada do ovário, trompas e omento (camada de gordura sobre o intestino) e, quando necessário, dos linfonodos, pode ser minimamente invasivo ou por cirurgia aberta convencional, dependendo do quadro de cada paciente e do estágio do tumor. Para mulheres em idade reprodutiva, a medicina conta hoje com recursos que permitem a preservação da fertilidade em vários casos.

Depois da cirurgia, é feita a análise do tipo de tumor e o tratamento prossegue com a administração de medicamentos que aumentam a possibilidade de cura ou contribuem para o controle da doença e elevam da sobrevida, como os inibidores de angiogênese (que bloqueiam os vasos que alimentam o tumor) e os inibidores da enzima Parp (que atuam na reparação do DNA e evitam a multiplicação das células cancerígenas). Outra possibilidade terapêutica com bons resultados é a imunoterapia, baseada em medicações que estimulam o próprio organismo a combater as células malignas.

Descobrir o câncer de ovário em fase inicial aumenta imensamente a possibilidade de cura. Assim, é fundamental manter uma rotina de consultas ao ginecologista (semestral para mulheres de alto risco e anual para as demais) e estar atenta a desconfortos e dores abdominais, irregularidade menstrual ou qualquer indício de anormalidade que perdure. Esses sinais não significam necessariamente um câncer, mas podem indicar uma série de outros problemas que, igualmente, precisam de tratamento. Mais ainda: caso haja casos de câncer de ovário, mama ou pâncreas na família, é possível procurar auxílio do geneticista para a busca de mutação genética que predisponha para esse tipo de câncer.

Fonte: José Carlos Sadalla – CRM 97419 SP; Marianne Pinotti – CRM 80.339 SP

Data da última atualização: 26/8/2021