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Carne vermelha: consuma com moderação

Estudos relacionam consumo elevado dessa proteína animal a um maior risco de desenvolvimento do câncer colorretal

A carne vermelha – de boi, porco, carneiro, cordeiro e outros, além dos embutidos feitos com esses produtos – é uma constante no cardápio dos brasileiros, geralmente presente em várias refeições ao longo da semana. O consumo em grande quantidade, porém, não é recomendado, pois está associado a um maior risco de desenvolvimento de câncer colorretal.

Isso está demonstrado em trabalhos científicos que compilam estudos de várias instituições (metanálises). Exemplo é um trabalho realizado no Reino Unido, publicado em 2019 no International Journal of Epidemiology, que acompanhou durante seis anos 475 mil pacientes. No grupo de indivíduos entre 40 e 69 anos, foi constatado que o consumo diário de 76 gramas de carne vermelha e carnes processadas (incluindo alimentos como linguiça e bacon) aumentou em 21% o desenvolvimento de câncer colorretal em comparação com os pacientes da mesma faixa etária que consumiam diariamente apenas 21 gramas. A recomendação em geral é evitar ao máximo os embutidos e reduzir a carne vermelha.

A partir desses estudos, organizações de saúde passaram a revisar a recomendação de consumo de carne vermelha, que era de 90 gramas por dia. Entidades internacionais como a World Cancer Foundation e o American Institute for Cancer Research indicam ser saudável e segura a ingestão semanal entre 350 a 500 gramas de carne cozida. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomenda até 500 gramas, também com preferência para preparações cozidas ou assadas e evitando o churrasco ou contato direto com o fogo. Para referência, considere que um espetinho tem entre 80 e 100 gramas; um bife, entre 100 e 120 gramas; e um hambúrguer, cerca de 120 gramas.

A carne é um alimento rico em nutrientes – proteína, ferro, zinco e vitaminas, inclusive as do complexo B, nutrientes importantes para o bom funcionamento do nosso organismo. Em excesso, porém, pode elevar o risco do câncer colorretal. Por quê?

A resposta é a característica físico-química dos componentes do alimento e o processo de digestão e excreção. Entre as proteínas animais, a carne vermelha é a que mais permanece no trato gastrointestinal. A digestão é mais lenta e pode provocar a formação de toxinas, alteração da flora intestinal e processo inflamatório, além de outros fatores na composição que podem levar ao desenvolvimento do câncer colorretal.

O ferro em excesso, por exemplo, gera muitos radicais livres. Em equilíbrio, eles ajudam no processo microbiano, entre outras funções. Em exagero, reagem com outros elementos, causando o processo inflamatório. Outros componentes nocivos e potencialmente cancerígenos por processo inflamatório, como o ácido siálico, também foram apontados em estudos.

O modo de preparo da carne também pode ter impactos negativos. As altas temperaturas do churrasco, grelhado e frituras facilitam reações químicas que liberam elementos tóxicos e de potencial cancerígeno, principalmente em carnes com alto teor de gordura, como a picanha. Prefira consumir carne vermelha cozida ou assada no forno em temperatura mais branda.

Uma boa notícia vem de estudos recentes que indicam que o pré-preparo do alimento pode reduzir a produção dessas toxinas. Recomenda-se deixar a carne de um dia para o outro em um marinado com suco ácido ou vinho e caprichar no tempero com alho, cebola e ervas, que são substâncias antioxidantes, capazes de minimizar a produção dos elementos tóxicos das carnes preparadas em altas temperaturas.

Pré-preparo e modo de preparo podem ajudar, mas o mais importante é controlar a quantidade. Uma dica para reduzir o consumo da carne vermelha é alternar a proteína de origem animal com a de origem vegetal, encontrada no feijão e outros grãos. E para um cardápio que ajude ainda mais a reduzir o risco de câncer colorretal basta incorporar à dieta também cereais integrais como a aveia, evitando os embutidos e as bebidas alcoólicas. Dessa forma, é possível curtir o melhor de todos os sabores: o sabor de uma vida mais saudável.

Fonte: André Silva Santos – CRM 111.622 SP; Mariana Ferrari Fernandes dos Santos (Nutricionista)

Data da última atualização: 31/5/2021