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Efeitos colaterais do tratamento dos cânceres ginecológicos sob controle

Medicina dispõe cada vez mais de recursos para lidar com os sintomas decorrentes das terapias, contribuindo com a qualidade de vida das pacientes e favorecendo a adesão ao tratamento

Os sintomas causados pelos tratamentos dos cânceres ginecológicos – tumores de ovário e trompas, colo uterino e endométrio – estão cada vez mais controláveis graças a intervenções terapêuticas mais efetivas e com menos efeitos colaterais e cuidados para minimizar efeitos colaterais que impactam o bem-estar físico e emocional das pacientes.

Para esses tumores, existem quatro frentes terapêuticas: cirurgia; quimioterapia, acrescida de imunoterapia e terapias-alvo; radioterapia; e hormonioterapia (esta particularmente direcionada para alguns tumores do endométrio). Em cada uma delas, a medicina dispõe de recursos que ajudam minimizar e até eliminar os efeitos indesejados das terapias, contribuindo, inclusive, para aumentar a adesão das pacientes ao tratamento.

Cirurgia
Em relação à cirurgia, uma das grandes preocupações é a esterilidade em função da extração do útero ou dos ovários, fator que preocupa as mulheres em idade reprodutiva, principalmente as mais jovens, comumente afetadas pelo câncer do colo uterino provocado pelo HPV (papiloma vírus humano). Para muitas, particularmente quando o diagnóstico é precoce, a Ginecologia Oncológica oferece opções, como intervenções que conservam o útero, retirando apenas a parte doente do colo.

Quimioterapia
Na quimioterapia, os efeitos colaterais mais comuns são a queda do cabelo, vômito, náusea e cansaço. Passageiros, eles perduram ao longo do tratamento, que dura geralmente de quatro a seis meses. Nesse período, os oncologistas se valem de uma série de recursos para controlá-los, como remédios para evitar vômito e náusea, e fortificantes para lidar com o cansaço. E, para mulheres que desejam engravidar, existe a possibilidade do congelamento de óvulos antes da quimioterapia em casos selecionados.

Os novos medicamentos imunoterápicos e de terapia-alvo apresentam menos efeitos colaterais comparados aos quimioterápicos, e, inclusive, não costumam causar queda de cabelos.

Radioterapia
A radioterapia, baseada na aplicação de doses controladas de radiação, é empregada geralmente após a cirurgia para eliminar eventuais células doentes residuais e, em alguns casos de câncer do colo do útero, antes da intervenção cirúrgica, visando reduzir o tamanho do tumor. Ela pode ser feita por meio de aplicações externas de radiação na região pélvica ou por meio da braquiterapia, aplicações mais concentradas realizadas dentro da vagina em regiões muito próximas ao tumor. Ambas sempre causam algum grau de atrofia na mucosa vaginal (vaginite actínica), implicando em dificuldades na vida sexual, como dores durante o ato sexual.

Esses efeitos adversos exigem atenção, uma vez que podem ser facilmente revertidos, mas, às vezes, são negligenciados por muitos médicos. Uma das alternativas para mulheres que podem usar hormônio é a aplicação de cremes vaginais com essas substâncias na formulação duas vezes por semana. Eles ajudam a fortalecer os tecidos lesionados.

No Brasil, em uma iniciativa pioneira, também estão sendo usadas aplicações de Laser de CO2 para indução de colágeno, que tem se revelado o melhor tratamento para a atrofia da mucosa genital, além de ser uma alternativa para as mulheres que não podem usar cremes com hormônios. São realizadas geralmente aplicações mensais ao longo de três meses, com eventuais reforços definidos em função da necessidade de cada paciente. Outra opção terapêutica é a fisioterapia vaginal, conduzida por profissionais da fisioterapia especializados.

Tratamento hormonal
Na terapia hormonal, um tratamento de longa duração baseado na administração de medicamentos que bloqueiam a produção do estrógeno (o hormônio feminino), os efeitos colaterais lembram os sintomas da menopausa como ondas de calor, insônia, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, secura da pele, secura vaginal e diminuição da libido. Muitas vezes, os tratamentos hormonais podem se estender por cinco anos. Em geral, os efeitos são mais fortes no começo, exigindo medidas para revertê-los até que o organismo da paciente se adapte à terapia.

Os recursos são os mesmos adotados para tratar os sintomas da menopausa, como prescrição de antidepressivos e alguns remédios para labirintite para controlar as ondas de calor, fitoterápicos e intervenções não medicamentosas, como exercícios físicos e práticas de equilíbrio mente-corpo, como ioga e relaxamento. Também somam positivos pontos a adoção de uma dieta mais saudável e o consumo de alimentos à base de soja.

A melhor abordagem
Em centros especializados como a BP, oncologistas e ginecologistas sempre buscam definir uma estratégia de cuidado que combine o melhor tratamento para cada caso e recursos para controlar os efeitos indesejados e garantir a qualidade de vida das pacientes. Isso pode envolver, inclusive, suporte de outros profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e educadores físicos. Para as pacientes, contar com o acompanhamento de um time multiprofissional, atuando de forma integrada, é um diferencial importante ao longo dessa jornada. A cura, sem dúvida, é o grande objetivo. Mas a caminhada é mais fácil de ser percorrida quando não vem acompanhada de sintomas que impactam a qualidade de vida e até a saúde emocional.

Fonte: Marianne Pinotti – CRM 80.339 SP

Data da última atualização: 31/5/2021