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Quais são os principais avanços no diagnóstico do câncer de ovário?

Identificação e acompanhamento das mulheres consideradas do grupo de risco contribuem para a detecção desse tipo de tumor em fases mais iniciais

Diagnosticar um tumor de ovário em fase inicial ainda é um desafio para a medicina. Ao contrário do câncer de mama, por exemplo, cujo rastreamento é indicado por meio das mamografias anuais, não há um exame específico para detectar o câncer de ovário. Os recursos que costumam ser utilizados para auxiliar no seu diagnóstico são o ultrassom transvaginal e o exame de sangue para o marcador tumoral CA-125. Contudo, estudos em larga escala não mostraram benefícios na adoção generalizada desses exames como forma de rastreamento, seja porque são pouco efetivos, seja pelo custo. Mas foi possível identificar um grupo de maior risco para o câncer de ovário e desenvolver estratégias que melhoram a assertividade da detecção.

As mulheres com maior risco são as portadoras de mutações nos genes BRCA 1 e 2. A identificação desse grupo é feita, principalmente, pelo histórico familiar de desenvolvimento precoce de cânceres associados a essas mutações, como os de ovário, mama, próstata e pâncreas.

Essas pacientes devem ser alvo de um acompanhamento mais atento e regular, a intervalos entre seis meses a um ano, de acordo com a indicação do ginecologista, para a realização do ultrassom transvaginal, e do exame do CA-125, que pode estar elevado em mulheres com câncer. O aumento desse marcador tumoral, porém, nem sempre representa o diagnóstico de câncer de ovário, pois outras doenças, como endometriose e infecções ginecológicas e abdominais, também podem alterar seu valor.

Para identificar uma suspeita de tumor maligno no ovário são considerados outros fatores, como quadro clínico da paciente, identificação de uma lesão ou nódulo, suas características e grau de risco apontado no exame de ultrassom. Se a prospecção tender para o câncer, é realizada uma ressonância magnética para complementar a avaliação e uma possível preparação para cirurgia de retirada do tumor.

Escala de risco padronizada

Um avanço importante foi o desenvolvimento de uma classificação universal padronizada para avaliação do grau do risco de malignidade em massas ovarianas e próximas ao órgão, por meio das características observadas na ultrassonografia. A escala, chamada RADS, já era utilizada para identificação do risco de cânceres de mama, próstata e fígado, entre outros.

Para o tumor de ovário, a classificação é chamada O-RADS. Ela se baseia na análise de aspectos morfológicos do cisto ou lesão, como formato, consistência e textura, entre outros, para estratificar o grau de risco. Esse resultado pode, por exemplo, chamar a atenção para um caso de maior risco, embora o marcador tumoral não esteja elevado.

A escala O-RADS, contempla cinco graus:

O-RADS 1 - Ovário normal
O-RADS 2 – Menos de 1% de risco de ser maligno
O-RADS 3 – Risco de malignidade entre 1% e 10%
O-RADS 4 – Risco intermediário de malignidade (entre 10% a 50%)
O-RADS 5 – Alto risco de malignidade (maior de 50%)

Nos casos de classificação entre 4 e 5, é realizada cirurgia e biópsia posterior para confirmar (ou não) a malignidade. Para pacientes com O-RADS 3, os médicos geralmente indicam o controle semestral.

Mesmo com critérios padronizados, a identificação das características avaliadas no ultrassom precisa ser feita por um profissional de radiologia experiente, que conte com um equipamento de qualidade e saiba realizar o exame de forma correta. Além disso, nos casos suspeitos, é importante o envolvimento de uma equipe multidisciplinar para uma interpretação mais segura dos resultados dos exames. Na BP, por exemplo, há reuniões semanais de radiologistas, cirurgiões e patologistas para analisar os casos com maior nível de suspeição.

Por fim, vale reafirmar a importância das consultas regulares ao ginecologista, que saberá indicar quais exames devem ser realizados e a eventual necessidade de acompanhamento diferenciado, se a paciente se enquadrar no grupo de risco. No caso dos tumores de ovário, assim como na maioria dos tipos de câncer, o diagnóstico nas fases iniciais da doença aumenta as chances de sucesso do tratamento.

Fonte: Fabio Francisco Oliveira Rodrigues – CRM/SP 81.824 e Douglas Jorge Racy – CRM/SP 70.303

Data da última atualização: 22/9/2021