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Estudo com participação da BP revela que formas graves da COVID-19 aumentam risco de problemas cardiovasculares, saúde mental e incapacidades em longo prazo

Pesquisa da Coalizão COVID-19 Brasil mostra complicações tardias na população brasileira devido à infecção; estudo avaliou 1.508 pacientes durante um ano, após alta hospitalar

Publicado em 11 de janeiro de 2023

A Coalizão COVID-19 Brasil — aliança para condução de pesquisas, formada pela BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hospital Israelita Albert Einstein, Hcor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet) — conduz estudos clínicos sobre tratamentos e os impactos do coronavírus na saúde. Um novo estudo foi publicado pelo Intensive Care Medicine, periódico científico oficial da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva. O Coalizão VII analisou a associação entre gravidade da COVID-19 em sua fase aguda e a qualidade de vida em longo prazo.

Após um ano de acompanhamento de pacientes que receberam alta após internação por COVID-19 em instituições brasileiras, os pesquisadores identificaram que quadros de maior gravidade da doença durante a hospitalização — definidos pela necessidade de ventilação mecânica, por exemplo — estão associados a maiores impactos na qualidade de vida e piores resultados nos desfechos de mortalidade, eventos cardiovasculares maiores, re-hospitalizações, novas incapacidades para atividades diárias, sintomas de ansiedade e estresse pós-traumático e dificuldade de retorno ao trabalho ou aos estudos.

Um dos principais achados é o alto percentual de pacientes que relataram novas incapacidades, como dificuldade de se locomover, de cuidar da própria higiene, fazer compras e administrar suas finanças. Entre os que necessitaram de ventilação mecânica, esse índice foi de 47%.

O estudo identificou que uma em cada quatro pessoas intubadas durante o tratamento precisou ser internada novamente ao longo dos 12 meses subsequentes. Além disso, 5,6% tiveram infarto, AVC ou morreram por doença cardiovascular, o dobro da taxa entre pacientes que não exigiram suporte respiratório durante a internação.

Os impactos na saúde mental também preocupam os pesquisadores. A prevalência de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) em pacientes que fizeram uso da ventilação mecânica foi o dobro daquela da população brasileira em geral. Além disso, um em cada quatro apresentou sintomas de ansiedade. Esse acometimento de saúde mental, somado às incapacidades físicas relatadas, está associado à redução significativa da qualidade de vida.

A taxa de mortalidade pós-alta hospitalar nos pacientes intubados durante o tratamento para a COVID-19 foi de 8% ao longo dos 12 meses, enquanto entre os que não precisaram de suporte ventilatório era de 2%. De acordo com os pesquisadores, a ventilação mecânica é um marcador importante de gravidade da doença e indica um grau maior de comprometimento pulmonar e de outros órgãos — não é a técnica o que provoca o dano (ao contrário, ela ajuda a salvar vidas), mas é um indicativo de que aquele indivíduo vai precisar de um tratamento prioritário na reabilitação.

Os pacientes

Os pesquisadores acompanharam 1.508 pacientes, internados em 84 hospitais do Brasil, e que participaram dos demais estudos da Coalizão. Os voluntários foram classificados em quatro grupos: os que não precisaram de suporte de oxigênio; os que receberam oxigenação por meio de máscara ou cânula nasal; os que necessitaram de ventilação não invasiva ou oxigênio por cateter nasal de alto fluxo; e os que foram intubados e necessitaram de ventilação mecânica. Os contatos para monitoramento da qualidade de vida, dos sintomas persistentes, complicações de saúde e outras doenças, foram realizados através de entrevistas telefônicas, aos três, seis, nove e 12 meses após a alta.

A importância do Coalizão VII

Muitas consequências da COVID-19 ainda são desconhecidas e preocupam especialistas no mundo inteiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda três passos para enfrentar esse desafio: reconhecer e encontrar esses pacientes, priorizar a reabilitação deles e investir em pesquisa.

O estudo, ao fazer a associação das sequelas, impactos e danos para a qualidade de vida à gravidade dos casos, ajuda a identificar as populações de maior risco e que precisam ter prioridade no tratamento e na reabilitação. De acordo com o Comitê Científico da Coalizão COVID-19 Brasil, saber quem necessitou de ventilação mecânica é uma forma de buscar esses pacientes e incluí-los em programas específicos para que sejam reabilitados.

A pesquisa também alerta para a necessidade de rastreamento dos pacientes pós-alta, pois muitos morrem em decorrência de complicações da doença, mas constam nos levantamentos como recuperados. Outra medida importante é preparar os profissionais para atuarem precocemente na reabilitação.

Os outros estudos da Coalizão COVID-19 Brasil que serão publicados:

  • Coalizão VIII – Avaliou se anticoagulação com rivaroxabana previne agravamento da doença com necessidade de hospitalização em pacientes não-hospitalizados com COVID-19. Foi finalizado e será submetido à publicação.
  • Coalizão IX – Avaliou se drogas antivirais isoladas e/ou em combinação entre si são efetivas para tratar casos de COVID-19 hospitalizados com doença moderada. Os antivirais testados foram atazanavir e daclatasvir associados a sofosbuvir. Foi concluído e submetido à publicação.