Costumeiramente silencioso, o câncer de pulmão, o terceiro tipo de tumor mais comum entre homens (depois de próstata e colorretal) e o quarto entre as mulheres (depois de mama, colorretal e útero), demora a ser identificado: apenas 25% dos casos são diagnosticados em fase inicial, condição que aumenta e muito as chances de cura.
Isso ocorre porque os sintomas só aparecem em fases mais avançadas, quando as lesões afetam estruturas no tórax, como a parede torácica ou a pleura (tecido que envolve o pulmão), provocando dor, e, em alguns casos, acúmulo de líquido nos pulmões. Quando atingem as vias aéreas pulmonares, podem causar tosse e falta de ar. No entanto, na maioria das vezes, a doença começa desapercebidamente por meio de pequeno nódulo no centro do pulmão.
Para detectar tumores, os médicos se valem de exames de imagem: tomografia e raio-X, este último um método menos preciso, mas mais acessível. Frente a lesões suspeitas, é feita biópsia, com a extração de amostra de tecido pulmonar para ser analisada em laboratório (exame anatomopatológico). As informações obtidas permitem fechar o diagnóstico.
Mesmo que os sinais da doença não sejam perceptíveis, pessoas expostas a fatores de risco relevantes – tabagismo e idade – podem ser beneficiadas por programas de rastreamento que já começam a ser implantados no Brasil, apesar de não estarem oficialmente instituídos por políticas públicas.
Pneumologistas estão aderindo a essa prática respaldados pelos resultados de pesquisas recentes que demonstram que é recomendável a realização de tomografia de baixa dose de radiação em fumantes com mais de 50 anos de idade que consumiram um maço de cigarros por dia por 20 anos ou mais. Estudos estatísticos mostram que o rastreamento de câncer de pulmão reduz a mortalidade da doença, uma vez que pacientes com esse perfil têm maior probabilidade de desenvolver nódulos no pulmão, e a detecção precoce favorece o tratamento.
Vale lembrar que a pandemia da Covid-19 provocou um fenômeno inesperado relacionado à detecção precoce de tumores de pulmão: com o aumento de exames para investigação das condições pulmonares dos pacientes internados com Covid, houve crescimento dos achados acidentais de tumores de pulmão, ou seja, nódulos foram detectados enquanto eram investigadas outras condições de saúde.
Para o futuro, o rastreamento poderá ser encampado oficialmente no país, mas os custos do serviço e a falta de infraestrutura tecnológica para a sua expansão em massa ainda são entraves.
Na BP, um hospital de alta complexidade, já está em andamento um projeto para implantação de um programa pulmonar com essa finalidade. O objetivo é oferecer o suporte de especialistas que, em função da história clínica e dos hábitos de vida de cada paciente, determinarão quem precisa ou não ser rastreado e, em caso positivo, com qual periodicidade. Nessa análise de classificação de risco, são considerados: a idade do paciente, a quantidade de tabaco consumida por anos (carga tabágica), se continua fumando ou se parou de fumar e há quanto tempo isso ocorreu. Só é considerado alguém que fumou pouco a pessoa com carga tabágica (número de marços por dia X número de anos de tabagismo) inferior a 10 maços-ano. Apesar de o fumo passivo ser um fator de risco conhecido, não foi estabelecido um índice para a sua classificação.
A técnica de rastreamento será a tomografia de baixa dose de radiação, tendo em vista que esse método é capaz de detectar precocemente nódulos que o raio-X não capta. Em síntese, a meta é localizar a doença cada vez mais precocemente em pessoas que têm mais chances de desenvolvê-la. A taxa de sobrevida em cinco anos (tempo limite do acompanhamento estatístico) é de aproximadamente 90% em pacientes cujos nódulos foram identificados e tratados em fases iniciais
Esse foco na rastreabilidade está sendo impulsionado pelos avanços do tratamento do câncer de pulmão. Há alguns anos, a detecção precoce era praticamente inútil, porque havia pouco a ser feito em favor da vida do paciente.
Além da melhoria contínua das técnicas cirúrgicas e radioterapêuticas, novas classes de medicamentos estão ajudando a reescrever a evolução clínica desta doença, como os remédios alvo-dirigidos, substâncias que alteram os mecanismos químicos que fazem as células doentes se multiplicarem ou as impedem de morrer; e os imunoterápicos, que estimulam o próprio sistema imunológico do paciente a atacar as células doentes.
Seguindo a marcha dessa evolução da medicina, recomenda-se aos indivíduos expostos aos fatores de risco que procurem o acompanhamento de um pneumologista. Esse profissional avaliará o caso e indicará o melhor momento para fazer uma tomografia do pulmão. O mesmo vale para pessoas com sintomas como tosses crônicas ou outros sinais respiratórios suspeitos, mas que nunca tiveram um diagnóstico fechado. Cuidados como esses certamente contribuirão para aumentar o número de casos de câncer de pulmão diagnosticados e tratados em fases mais iniciais, ajudando, portanto, a impulsionar as taxas de cura.
Data de produção: 28/07/2022
Data da última atualização: 29/07/2022