Embora o fumo seja a principal causa do câncer de pulmão, cerca de 20% dos portadores dessa doença não são fumantes. A ciência ainda não sabe com exatidão porque isso acontece, mas alguns fatores de risco já foram identificados a partir de estudos estatísticos. O principal é o fumo passivo. Quem convive com fumantes respira as mesmas substâncias tóxicas que eles inalam ao consumir derivados do tabaco (cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé).
Outros dois fatores nocivos são a poluição atmosférica, em função dos agentes cancerígenos gerados por motores a gasolina, diesel e processos industriais; e a exposição ao radônio, um gás radioativo que não possui cor, odor ou sabor, encontrado em regiões ricas em minérios como o urânio. O Brasil possui a quinta maior reserva desse minério, presente principalmente em algumas regiões de Minas Gerais, como o município de Poços de Caldas. No Hemisfério Norte, onde existem muitas construções subterrâneas, as pessoas ficam ainda mais expostas quando as edificações são instaladas em locais onde existe o gás.
Doenças pulmonares crônicas, como a fibrose pulmonar, também expõem seus portadores ao risco do câncer de pulmão. Pessoas com parentes de primeiro grau com essa doença também são um pouco mais suscetíveis, o que aponta para algum risco de fundo genético.
Dentre todos os fatores de risco, o fumo passivo é o único modificável ao alcance das pessoas no plano individual. Mesmo que o risco seja bem menor comparado ao do fumante ativo, é importante que os não fumantes evitem a fumaça dos produtos derivados do tabaco.
Esse esforço pessoal é favorecido pela legislação brasileira, que desde 1996 tornou-se referência mundial em termos de políticas públicas ao banir gradativamente o cigarro de locais públicos, além de restringir sua propaganda nas mídias. Como resultado da medida, houve uma queda importante no número de fumantes no país ao longo dos anos. Segundo dados de 2021 do sistema Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde, o total de fumantes da população brasileira com 18 anos ou mais era de 9,1%, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres.
No caso de pessoas que moram com fumantes, recomenda-se manter os ambientes ventilados e estabelecer acordos, como a restrição do fumo a determinados cômodos a fim de evitar o contato dos não fumantes com a fumaça.
No Brasil não há ainda protocolos para o rastreamento do câncer de pulmão em indivíduos não fumantes, pois não existem evidências científicas de que haja mais benefícios do que os riscos associados à exposição à radiação dos métodos diagnósticos (tomografia ou raio-X). Em alguns países asiáticos, devido à maior incidência do câncer de pulmão na comparação com o Ocidente, são realizados rastreamentos periódicos em pessoas com histórico familiar comprovado.
Já no caso dos fumantes ativos, pesquisas recentes sugerem a viabilidade de tomografias de baixa dose de radiação em fumantes com mais de 55 anos de idade que consumiram um maço de cigarros por dia por 20 anos ou mais.
Um fato clínico relevante separa fumantes ativos com câncer de pulmão dos não fumantes com a mesma doença: os primeiros apresentam quase sempre formas mais graves da enfermidade, exigindo, portanto, tratamentos mais complexos.
As cirurgias e radioterapias são mais fáceis de serem realizadas em pacientes não fumantes, que possuem pulmões mais resistentes e que sofrem menos efeitos colaterais. Não fumantes também são menos propensos às doenças associadas ao tabagismo (pressão alta, doenças cardíacas, enfisemas, bronquite), o que dá a eles mais capacidade de tolerar o tratamento.
Outro fator importante é que os tumores que surgem em fumantes são molecularmente mais complexos comparados aos dos não fumantes, que têm maiores chances de possuir alternações em moléculas específicas, as quais já são alvo de medicações orais que ajudam tratar esse câncer. Os fumantes, devido à ação multifacetada de tantos tipos de toxinas presentes no fumo, tendem a apresentar tumores com múltiplos tipos de alterações moleculares, tornando limitado o poder de ação dos medicamentos alvo-dirigidos.
Mas, frente ao câncer que mais mata no mundo, fumantes e não fumantes têm a mesma maneira de controlar o maior fator de risco para os dois grupos: manter-se longe do fumo.
Fonte: William Nassib William Junior - CRM/SP 104.421
Data de produção: 26/07/2022
Data da última atualização: 28/07/2022