Artigo

Todos os tumores cerebrais são iguais?

Malignos ou benignos, primários ou metástases, diferentes tipos de tumores afetam o cérebro e estruturas vizinhas. Tratamentos dessas lesões que acometem o sistema nervoso central têm evoluído e estudos em andamento podem trazer mais novidades.

Tão delicados quanto estratégicos, o cérebro e as estruturas vizinhas (cerebelo, tálamo, hipotálamo, meninge, medula espinhal e glândulas) podem ser afetados por vários tipos de cânceres, seja os que se originam localmente, chamados tumores encefálicos primários, ou aqueles que surgem em outras partes do corpo e migram para a região encefálica na forma de metástases.

Nos adultos, as lesões encefálicas metastáticas são mais frequentes que os tumores primários. As mais prevalentes estão associadas a cânceres de mama, pulmão, melanoma (câncer de pele) e rim, sendo que algumas serão tratadas da mesma forma que os tumores do local de origem e outras deverão ser submetidas a cirurgia e/ou radioterapia. Em crianças, os tumores primários são mais comuns, com destaque para o meduloblastoma.

A maioria dos tipos de tumores que surgem a partir das células da região encefálica não se dissemina para outras partes do corpo. Mas, mesmo suas formas benignas, ou seja, massas tumorais que não apresentam risco de infiltrações e metástases, precisam de tratamento, pois geralmente provocam sintomas que prejudicam a saúde e qualidade de vida dos pacientes.

Um exemplo são tumores pituitários benignos, conhecidos como adenomas, originários na pituitária, glândula abaixo do cérebro também chamada de hipófise, que causam problemas ao crescerem, pressionando as estruturas adjacentes e/ou produzindo hormônios em quantidade excessiva.

Tumores malignos

Existem dezenas de tumores encefálicos primários malignos, associados aos diferentes tipos de células encontradas nessa região do sistema nervoso central. Entre os mais frequentes estão os gliomas, linfomas e meningiomas (tumores de meninge). Todos se ramificam em diversos subtipos.

Os gliomas (lesões relacionadas às células gliais), por exemplo, se subdividem em múltiplos subtipos, com destaque para os oligodendrogliomas, ependimomas, astrocitomas e glioblastoma, subtipo mais comum dentre todos os gliomas no adulto, com incidência em torno de 50%. Juntos, os gliomas representam cerca de 30% de todos os tumores primários do sistema nervoso central. Em termos populacionais, trata-se de 30 casos para cada 100 mil pessoas.

Além de variar de acordo com as células de origem, os tumores encefálicos também se diferenciam internamente em função de suas características moleculares e genéticas.

Fatores de risco e tratamento

A ciência ainda sabe muito pouco sobre os fatores de risco associados ao desenvolvimento dos tumores encefálicos e seu grau de influência. Contudo, já está bem estabelecida a relação entre o surgimento de lesões do gênero e a exposição à radiação ionizante e também com a deficiência imunológica, que favorece o aparecimento de linfomas no cérebro e medula espinhal. Não há nada comprovado sobre a emissão de radiação de radiofrequência dos celulares, micro-ondas e radares.

Ainda sem esquemas de rastreamento definidos para a detecção precoce de tumores, é importante a rápida identificação dos sintomas e a realização de exames de imagem para o diagnóstico. Os sinais são muito variáveis, dependendo sempre das regiões afetadas, e alguns são inespecíficos. As lesões também podem gerar alterações psiquiátricas, como depressão e agressividade.

A ressonância magnética, preferencialmente, e a tomografia, um exame mais rápido e mais barato, são recursos diagnósticos que permitem visualizar os tumores. Exames auxiliares poderão ser solicitados em função do tipo de tumor identificado.

Para o tratamento, os médicos se valem de estratégias multimodais, ancoradas basicamente em três pilares:

  • • Cirurgia para a extração do tumor, almejando a maior ressecção possível
  • • Radioterapia pós-cirúrgica ou para casos não operáveis
  • • Quimioterapia

Espera-se que, num futuro próximo, avanços registrados no tratamento de outros tipos de tumores poderão ser replicados nos cânceres encefálicos. Estão em curso estudos de inovações terapêuticas orientadas a fazer o próprio sistema imunológico do paciente identificar e eliminar as lesões. Há, por exemplo, uma pesquisa promissora, ainda em fases de testes, envolvendo o uso de vírus geneticamente modificados administrados dentro do tumor, como indutor do sistema autoimune. Essa terapia foi, inclusive, aprovada no Japão.

Progressos também vêm sendo obtidos nos campos da radioterapia, com o advento de novos aparelhos e técnicas; e da cirurgia, beneficiada por inovações como a neuronavegação, que tem tornado os procedimentos cada vez mais precisos e seguros ao usar um software que funde imagens captadas ao vivo com modelos previamente construídos para servir de mapa para o cirurgião efetuar o procedimento. Trata-se de um conjunto de trunfos que se somam com um único objetivo: vencer os cânceres encefálicos.

Fonte: Rodrigo Coutinho - CRM/SP 148.246

Data de produção: 22/07/2022

Data da última atualização: 28/07/2022