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As revoluções no tratamento do mieloma múltiplo

No Brasil, a BP é uma das protagonistas na busca por um futuro promissor: em 2022, a instituição começará a atuar em estudos clínicos com as novas modalidades de tratamento dessa doença hematológica

Três grandes novidades prometem revolucionar o tratamento do mieloma múltiplo (tipo de câncer que se origina nos plasmócitos, células formadas na medula óssea responsáveis pela produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias): anticorpos monoclonais biespecíficos (bites), anticorpos conjugados e Car-T Cell. Esses novos medicamentos imunoterápicos estão baseados em avanços da medicina molecular que permitem o desenvolvimento de novos mecanismos imunológicos de combate às células doentes.

As três inovações, que seguem em desenvolvimento, estão relacionadas a um recém-descoberto foco terapêutico: a proteína BCMA. Usando essa proteína como alvo, elas funcionam como anticorpos, agindo como mísseis teleguiados que atacam exclusivamente as células doentes que expressam essa proteína, preservando as partes saudáveis do corpo.

Os anticorpos monoclonais biespecíficos (proteínas fabricadas em laboratório) são medicamentos compostos por dois anticorpos diferentes. Na prática, eles funcionam como dobradiças. De um lado, conseguem se ligar com a proteína BCMA presente na célula doente. De outro, conectam-se com proteínas dos linfócitos, células do sistema imune que combatem as células doentes. A partir dessa conexão, são desencadeadas reações químicas que potencializam o trabalho do sistema imunológico.

Desenvolvidos há dois anos, os anticorpos monoclonais biespecíficos que agem junto à proteína BCMA são foco de pesquisas clínicas em várias partes do mundo. Novas proteínas estão sendo descobertas, o que indica que novos anticorpos biespecíficos irão reforçar no futuro próximo o arsenal medicamentoso do tratamento do mieloma múltiplo, uma das doenças hematológicas que assistiu com mais vigor nos últimos anos o desenvolvimento de inovações.

Já os anticorpos conjugados são medicamentos que associam anticorpos monoclonais com outras substâncias quimioterápicas que trabalham destruindo as células doentes. Para isso, os anticorpos funcionam como guias que conduzem os fármacos até as células enfermas, usando a proteína BCMA como um endereço. Uma vez que o anticorpo se conecta à célula, o quimioterápico é liberado para agir sobre ela, preservando as células normais.

O estado da arte em inovação em medicina, a terapia de Car-T Cell é a terceira promessa para o tratamento do mieloma múltiplo. Os estudos iniciais entusiasmam os especialistas. A partir dela, linfócitos dos pacientes são extraídos e modificados com inclusão de vetor viral para prepará-los para atacar e eliminar as células doentes que expressam a proteína BCMA. Essas células do sistema imune reprogramadas são multiplicadas e infundidas na corrente sanguínea do paciente para agirem contra a doença. O desenvolvimento de novas proteínas-alvos também é o caminho para multiplicar novas terapias de Car-T Cell.

Nos Estados Unidos já estão aprovados os tratamentos para mieloma múltiplo com Car-T Cell e anticorpos conjugados. Ainda não existe aval para os anticorpos monoclonais biespecíficos, que seguem em estudos clínicos em fases avançadas e promissoras. No Brasil, a expectativa é que as três modalidades sejam aprovadas a partir de 2022.

As pesquisas apontam que a indicação de cada um desses novos tipos de medicamentos depende de cada caso. Os trabalhos mais recentes divulgados no Congresso Norte-Americano de Hematologia de 2021 trouxeram dados ainda mais animadores: pensadas originalmente para serem aplicadas em estágios mais tardios da doença, todas essas três alternativas se mostram propícias para fases mais precoces, modificando radicalmente a forma de tratar o mieloma múltiplo.

Além disso, também foram mostrados dados iniciais dessas novas modalidades de tratamento, mas utilizando novos alvos terapêuticos, o que ampliará ainda mais o tratamento do mieloma múltiplo. Com essas inovações, já se imagina que a cura está próxima. Até então, o tratamento padrão de novos diagnósticos era baseado em quimioterapia e, para aqueles que apresentavam condições de saúde, transplante de medula óssea seguido de quimioterapia de manutenção.

No Brasil, a BP é uma das protagonistas desse futuro promissor: em 2021 participamos de estudos com anticorpos conjugados e, em 2022, começaremos a atuar em estudos clínicos com todas essas novas modalidades de tratamento do mieloma múltiplo.

Fonte: Breno Gusmão - CRM/SP 166.471

Data da última atualização: 22/12/2021