Distúrbios do Sono

Entendendo a doença

Os distúrbios do sono abrangem diversos tipos de problemas que afetam o sono, trazendo muitos impactos negativos para nossas vidas. Além de noites maldormidas, que prejudicam nossa rotina diária e afetam nossa disposição, esses distúrbios podem levar ao desenvolvimento de doenças, como as cardiovasculares, associadas à apneia do sono. Também podem sinalizar precocemente a ocorrência de outros males, como as demências, mais comuns entre pessoas idosas.

O problema é observado com maior frequência nas grandes cidades, associado principalmente a fatores estressantes como trânsito, aglomerações e medo da violência. Pesquisas mostram que há uma relação direta entre distúrbios do sono e nível de estresse elevado.

Para identificar os distúrbios do sono, os especialistas necessitam diferenciar eventos pontuais e transitórios daqueles que se manifestam de forma recorrente. E o tratamento é fundamental, pois nós passamos um terço da nossa vida dormindo. Boas horas de sono se traduzem em mais qualidade de vida e saúde.


Tipos

Existem vários tipos de distúrbios do sono e alguns deles afetam grupos populacionais diferentes, seja em relação ao sexo ou à faixa etária.

Distúrbios mais comuns em crianças

Na infância, são comuns distúrbios relacionados a problemas respiratórios e parassonias (transtornos caracterizados por comportamentos no sono fora do padrão).

Problemas respiratórios:

  • Apneia do sono (síndrome da apneia obstrutiva do sono) – doença crônica caracterizada pela obstrução parcial ou total das vias respiratórias, provocando seguidas interrupções da respiração enquanto a pessoa dorme. Ela pode ser causada por amígdalas e adenoide grandes e pode ser agravada pelo excesso de peso. Nessa faixa etária, noites maldormidas podem levar a problemas de concentração e memória, com impactos no aprendizado. É comum provocar alterações no crescimento da face, que podem refletir em alterações na arcada dentária com o passar dos anos. A apneia também é muito comum nos adultos.

Parassonias infantis:

  • Enurese noturna (incontinência urinária noturna) – é o distúrbio do sono mais comum da infância. É considerado um fenômeno normal do desenvolvimento infantil até os 5 anos de idade.
  • Sonambulismo – as funções motoras da criança despertam, enquanto a consciência continua dormindo. Isso a faz sair da cama, andar pela casa e, às vezes, até falar dormindo. Os episódios de sonambulismo podem durar pouco tempo ou até mais de meia hora e se repetir ao longo da noite.
  • Terror noturno – mais comum entre 2 e 5 anos de idade, é caracterizado por episódios de pânico que ocorrem nas primeiras horas de sono. Em algumas situações a criança pode abrir os olhos, gritar ou chorar, mesmo dormindo. No dia seguinte ela não lembra de nada. Esse distúrbio não deve ser confundido com pesadelos, uma vez que no terror noturno não existem registros na memória do fato ocorrido. Os sintomas são semelhantes aos observados nos adultos, que tendem a ser mais agressivos durante essas ocorrências.

Distúrbios mais comuns em adultos e idosos

  • Apneia do sono – uma parte dos pacientes adultos com apneia do sono foi uma criança não tratada do problema. A apneia é mais comum no sexo masculino devido a questões hormonais que propiciam um maior relaxamento da musculatura da garganta. Nas mulheres, o problema ocorre mais depois da menopausa. O excesso de peso também pode agravar o distúrbio. A apneia é um fator de risco para problemas cardiovasculares (como hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, doença arterial coronária e arritmias) e vice e versa.
  • Insônia – é caracterizada pela dificuldade em iniciar e/ou manter o sono. Está associada a situações de estresse, sendo mais dependente do contexto de vida das pessoas do que das condições orgânicas. Geralmente afeta mais as mulheres.
  • Sonolência excessiva diurna (SED) ou hipersonia – é caracterizada pela dificuldade da pessoa de se manter acordada e alerta durante o dia. O indivíduo apresenta sonolência e lapsos de sono que podem ir de uma sonolência leve, como uma distração, até quadros graves e com riscos, em que ocorre sono intenso, com perda da memória. Causa redução na concentração, rendimento no dia a dia e piora da qualidade de vida. Também existe o risco de acidentes de trânsito e de trabalho. Para fazer esse diagnóstico é importante excluir outras doenças que podem causar sonolência, entre elas doenças do sono como insônia e apneia e doenças neurológicas e psiquiátricas. Também precisam ser verificados medicamentos que possam causar sonolência como efeito colateral.
  • Bruxismo – é considerado um distúrbio do movimento, em que a pessoa tem atos inconscientes de ranger e apertar os dentes durante a noite, causando complicações como alterações dentárias, dores de cabeça constantes, além de estalos e dores na mandíbula.
  • Síndrome das pernas inquietas – a pessoa apresenta uma sensação de desconforto nas pernas associada à necessidade incontrolável de movimentá-las, que costuma surgir durante o repouso ou na hora de dormir. Existe uma provável causa genética e o problema pode ser agravado por períodos de estresse, uso de substâncias estimulantes, como cafeína ou álcool, ou em caso de doenças neurológicas e psiquiátricas. A síndrome das pernas inquietas dificulta o sono e pode provocar fadiga e sono excessivo durante o dia.
  • Narcolepsia – parassonia mais rara, caracterizada por uma forte sonolência durante o dia, mesmo que a pessoa tenha tido a sensação de uma boa noite de sono. Resulta em ataques súbitos de sono, fazendo com que o indivíduo adormeça em ocasiões inesperadas e até perigosas como, por exemplo, dirigindo o carro. O distúrbio está associado a uma desorganização do sono. Devido a desequilíbrios químicos no cérebro, portadores de narcolepsia pulam as fases iniciais e entram subitamente na última etapa do sono, chamado sono REM. Por isso, eles podem ter crises de ausência ou até mesmo quedas durante o dia.

Sintomas

Na apneia no sono, o ronco é um dos principais sintomas. Em muitas situações, a doença faz a pessoa acordar com uma sensação de sufocamento ou desconforto e dores no peito. Verifica-se também dificuldade de concentração durante o dia, cansaço e alterações do humor. Em alguns casos, pode levar à impotência sexual nos homens e à dificuldade de engravidar nas mulheres.

Na insônia, os sintomas mais característicos são a dificuldade persistente de adormecer ou de manter o sono de forma ininterrupta ou o despertar antes do tempo desejado.

No caso da sonolência excessiva diurna, sono e cansaço intenso ao longo do dia são os sintomas dominantes. Pode ocorrer também baixo desempenho nas atividades e dificuldade de raciocínio.

O bruxismo geralmente provoca dores na face e na região das têmporas e desgaste nos dentes. É comum o dentista ser o primeiro profissional a detectar sinais do problema.

A síndrome das pernas inquietas, como diz o nome, se manifesta com sintomas nas pernas como desconforto, formigamento e dor, que aparecem no sono e durante o dia em repouso e melhoram com o movimento. Estresse, tabagismo e café em excesso costumam piorar o desconforto. Como isso afeta a qualidade do sono, a pessoa pode ter sonolência e baixo rendimento durante o dia.

Já a narcolepsia se manifesta por meio de adormecimentos repentinos, episódios de ausência e baixo rendimento. É comum os narcolépticos ganharem peso ao longo do tempo. Por causa desse problema, é frequente a associação de doenças metabólicas, como colesterol elevado e diabetes.

Nas demais parassonias, a forma de manifestação é o que define cada uma delas (urinar na cama, sonambulismo e os ataques de pânico do terror noturno).


Diagnóstico

O diagnóstico dos distúrbios é clínico. A partir de uma boa conversa com o paciente para levantar os sintomas e histórico, o médico (otorrinolaringologista, pneumologista, clínico geral, neurologista, psiquiatra, pediatra ou outro médico habilitado para atuar em medicina do sono) já pode identificar que tipo de problema está afetando o sono.

Para confirmar ou refinar o diagnóstico, outros exames podem ser solicitados. Eles serão indicados em função da complexidade e características de cada caso:

  • Polissonografia tipo 1: é o exame mais completo, no qual o paciente passa a noite em um quarto equipado com dispositivos que monitoram variáveis fisiológicas e é realizada gravação de áudio e vídeo, este último especialmente útil para registrar eventos de sonambulismo. A polissonografia inclui eletroencefalograma, que detecta as ondas cerebrais do paciente; eletro-oculograma, que registra os movimentos dos olhos; monitoramento do fluxo respiratório por meio da observação da movimentação do tórax; eletromiografia, que capta a movimentação dos músculos; e oximetria, que mensura a saturação do oxigênio. Considerado padrão-ouro, esse exame detecta todos os tipos de distúrbios do sono existentes, embora não seja realmente necessário para os distúrbios mais frequentes como a apneia do sono, por exemplo. É particularmente importante em casos neurológicos e demanda que o sono durante a noite tenha a duração mínima de quatro horas.
  • Polissonografia tipo 2: É uma polissonografia semelhante à do tipo 1, com a diferença de ser realizada em casa, sem a supervisão dos técnicos do laboratório e sem gravação de áudio e vídeo.
  • Polissonografia tipos 3 e 4: não incluem o eletroencefalograma, concentrando-se na observação de disfunções e problemas respiratórios. Costuma ser indicada para diagnóstico da apneia do sono. É feita com o uso de aparelhos portáteis (polígrafos) que podem ser levados para casa. Diferentemente do tipo 3, que mede a saturação de oxigênio e o fluxo aéreo (quantidade de ar que entra pelo nariz e pela boca), o tipo 4 só mensura um dos dois parâmetros do tipo 3 (ou saturação ou fluxo do ar). O tipo 4 geralmente é indicado para triagem e, caso seja positivo, demandará outro exame mais completo para o diagnóstico.

Nos casos de sonolência excessiva pode ser necessária uma espécie de polissonografia diurna, o chamado teste de múltiplas latências do sono, após a realização da polissonografia tipo 1 na noite anterior. Ela é especialmente útil para diagnosticar a narcolepsia, um distúrbio bastante incomum.


Tratamento

As estratégias terapêuticas variam em função de cada tipo de distúrbio do sono e o público afetado.

Para a apneia do sono em crianças, a cirurgia para a extração das amígdalas e adenoide é o tratamento mais indicado. As taxas de sucesso são altas. Em adultos, as escolhas variam em função de fatores clínicos, como idade e presença de outras doenças, e também da anatomia das vias respiratórias. O CPAP, aparelho composto por máscara que envia fluxo de ar para as vias respiratórias, evitando a apneia do sono, é um dos principais tratamentos. De uso contínuo, o CPAP não cura a doença, mas evita a ocorrência das obstruções associadas à apneia. Além do CPAP, existem cirurgias, como a faringoplastia (plástica da faringe), que pode ser indicada para casos em que o paciente tenha a anatomia da garganta favorável para esse tipo de intervenção.

Nas insônias, o tratamento geralmente envolve medidas comportamentais. Terapias psicológicas (cognitivo-comportamental) se sobressaem como tratamento padrão, junto com mudanças no estilo de vida. Isso pode incluir exercícios físicos, terapias de relaxamento e medidas de higiene do sono (leia mais em Prevenção). O uso de medicações (como o zolpidem, da chamada classe Z) deve ser restrito e temporário, uma vez que não resolve o problema em si. Medicações serão sempre secundárias às alternativas terapêuticas mencionadas, em especial a terapia cognitivo-comportamental.

Para a sonolência excessiva diurna, podem ser usadas medicações, mas o foco principal são as medidas de higiene do sono.

No caso do bruxismo, em que o estresse tem grande repercussão, além de tratamento com o uso da placa intraoral (que evita o desgaste dos dentes), é importante focar em medidas comportamentais, exercícios físicos e terapias de relaxamento.

A síndrome das pernas inquietas tem tratamento medicamentoso. Também é importante a atenção para fatores emocionais que, quando presentes, podem piorar o quadro. Por isso merecem sempre ser investigados e tratados, se necessário.

No caso das parassonias infantis, as medidas terapêuticas são comportamentais, com intervenções que podem se estender também à família da criança. Muitas vezes, as parassonias infantis estão relacionadas a problemas emocionais.


Fatores de risco

Além de fatores orgânicos, que influenciam no caso da apneia do sono, componentes psicossociais podem funcionar como gatilhos ou amplificadores de distúrbios do sono. Entre eles estão:

  • Estresse.
  • Ambientes inadequados para dormir (barulhentos, iluminados, desconfortáveis, etc.).
  • Comportamento inadequado em relação ao sono, como horário irregular para dormir, assistir à TV ou usar celular na cama.
  • Problemas de relacionamento na família e nas demais redes sociais (escola, trabalho, etc.).

Prevenção

A recomendação dos especialistas é garantir a higiene do sono, que envolve comportamentos, rotinas e condições ambientais que favorecem o sono e a qualidade dele. Entre outros aspectos, é importante:

  • Definir um horário fixo para dormir e acordar todos os dias.
  • Evitar bebidas alcoólicas e cigarro pelo menos quatro horas antes de deitar. O mesmo vale para alimentos e bebidas estimulantes como café, chás, chocolate e refrigerantes.
  • À noite, optar por uma alimentação leve.
  • Preparar o ambiente de sono, garantindo que seja silencioso, com pouca luz e com conforto térmico (temperatura agradável).
  • Ao deitar, assegurar que todas as telas estejam apagadas (TV, celular, computador, relógio digital). A ordem é desconectar-se.
  • Exercícios físicos ajudam a ter boas noites de sono, mas eles devem ser evitados logo antes de dormir.

Atenção: o número necessário de horas de sono varia em função das características individuais e genéticas de cada pessoa. Em média, os adultos dormem entre 6 e 8 horas. Crianças dormem mais, conforme a faixa etária. A medida do bom sono é o dia seguinte saudável e produtivo.


Novidades

Segue em expansão o número de aplicativos de celular usados para monitorar a qualidade do sono. Alguns, por meio de microfones, detectam movimentos corporais e estimam o número de horas dormidas a cada dia. Outros, além de gerar relatórios relacionados ao sono, que podem ser compartilhados com o médico, oferecem informações que ajudam o usuário a melhorar as práticas de higiene do sono. Também estão sendo lançados dispositivos (devices) que monitoram a qualidade do sono. No exterior, já existem tecnologias do gênero no formato de anel.

No campo dos medicamentos, devem chegar em breve ao Brasil novos remédios para insônia que já foram lançados nos Estados Unidos e na Europa.


Diferenciais BP

Na BP, você conta com médicos de diversas especialidades – otorrinolaringologistas, pneumologistas, pediatras, clínicos gerais, psiquiatras e neurologistas – habilitados para diagnosticar e tratar todos os tipos de distúrbios do sono, dos casos mais simples até os mais complexos, incluindo abordagens clínicas e cirúrgicas, como a extração de amígdalas e adenoides em crianças e a faringoplastia em adultos para tratamento da apneia do sono.

Sendo um polo de saúde de alta complexidade, com um corpo clínico multidisciplinar, oferecemos a possibilidade de interconsultas, um aspecto importante para pacientes com problemas associados, que exigem o envolvimento de mais de um especialista, como é o caso dos que têm doenças cardíacas e apneia do sono.

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