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Combinações medicamentosas melhoram o controle do mieloma múltiplo

Novos protocolos de imunobiológicos combinados com quimioterápicos reduzem em até 40% o risco de progressão da doença ou óbito em pacientes que não podem ser submetidos ao transplante de medula óssea ou sofrem com o retorno da doença

Cada vez mais individualizado, o tratamento do mieloma múltiplo avança a passos largos com a combinação de quimioterápicos e medicamentos imunobiológicos, proteínas fabricadas em laboratório que ajudam a combater esse tipo de câncer que se origina nos plasmócitos (células do sistema imunológico que se formam na medula óssea). Para os pacientes, particularmente aqueles que não são elegíveis ao transplante de medula ou que assistem a volta da doença após tratamento, esses novos protocolos medicamentosos mostram redução de 30% a 50% do risco de progressão da enfermidade, aumentando proporcionalmente a sobrevida.

Há cinco anos, os pacientes com mieloma múltiplo que não podiam ser transplantados por restrições como a debilidade física, dependiam de medicações quimioterápicas menos modernas e obtinham resultados muito inferiores comparados aos transplantados. Na prática, esses pacientes tinham recaídas precoces, obrigando-os a trocar de terapias mais frequentemente, o que acabava por restringir as opções disponíveis e afetar sua sobrevida.

Com as novas combinações medicamentosas disponíveis para aplicação em primeira linha, ou seja, logo após o diagnóstico e constatação da sua inelegibilidade ao transplante, os resultados entre os dois grupos de pacientes praticamente se igualaram, aumentando o período que a doença permanece sob controle e reduzindo o risco de progressão e óbito.

Disponível no Brasil

No Brasil, foram aprovados vários protocolos. Para pacientes não elegíveis a transplante, destacam-se três protocolos. Dois deles têm em comum o uso do daratumumab, anticorpo monoclonal que inibe a proteína CD38, presente na maior parte dos pacientes do mieloma: daratumumab, lenalidomida e dexametasona (Protocolo Dara-VMP); e daratumumab, bortezomib, melfalano e prednisona (Dara-VMP). Além desses, existe a combinação do anticorpo monoclonal bortezomib com lenalidomida e dexametasona (VRD). Com eficácia comprovada por estudos científicos, os três protocolos apresentam resultados que entusiasmam os especialistas nos casos de pacientes que não podem ser submetidos ao transplante.

Para pacientes elegíveis ao transplante, também foram aprovados no país protocolos de medicamentos combinados que podem ser aplicados antes do transplante: daratumumab, bortezomib, talidomida e dexametasona (Dara-VTD) e bortezomib, lenalidomida e dexametasona (VRD), com excelentes resultados.

Além disso, pesquisadores continuam estudando outras combinações, que beneficiam também pacientes que sofrem com o retorno da doença (recidiva) ou são refratários a outros medicamentos. Nesses casos, para definir as estratégias terapêuticas, os médicos observam como o indivíduo foi tratado previamente, quais foram os efeitos colaterais provocados e quanto tempo o primeiro tratamento controlou a doença. O objetivo é, a partir de uma análise caso a caso, explorar o potencial das combinações medicamentosas. Nesse cenário de recaídas, também tivemos novidades, como as aprovações dos protocolos calfilzomib, daratumumab e dexametasona (KDD) e isatuximab, pomalidomida e dexametasona (IsaPD), entre outros.

A visão de futuro fica ainda mais promissora quando se vislumbra a chegada do Car-T Cell, inovação terapêutica baseada na extração e modificação genética em laboratório dos linfócitos do próprio paciente para capacitá-los a atacar de forma mais eficiente as células doentes associadas ao mieloma. Nos Estados Unidos, o Car-T Cell para tratamento de mieloma múltiplo já foi aprovado. No Brasil, espera-se sua validação ainda este ano. Para os pacientes, trata-se de um advento que pode significar a cura da doença.

Fontes: Breno Gusmão CRM/SP 166.471

Data da última atualização: 03/2/2022